Por Kátia Bagnarelli e Professora Maria Isabel Dantas de Siqueira, PUC Goiás – Engenharia de Alimentos. Fotos: LabraFlora.
O Cerrado, também conhecido como savana brasileira,
localizado no Planalto Central, é o segundo bioma do país em área, apenas
superado pela Floresta Amazônica. Apresenta rica biodiversidade com grande
número de espécies vegetais, e os estudos envolvendo estas espécies é de suma
importância para divulgar conhecimento sobre as características nutricionais,
incentivar o consumo , o manejo sustentável e o cultivo econômico, contribuindo
para a preservação deste bioma, desde que haja o aproveitamento industrial
alinhado a projetos envolvendo biodiversidade para alimentação e nutrição.
Uma espécie nativa do cerrado que vem se destacando como
alimento é o do baru, leguminosa arbórea lenhosa, conhecida até pouco tempo
para aproveitamento como madeira e a partir dos estudos em universidades,
órgãos de pesquisas e organizações ambientalistas, o conhecimento do valor
nutricional e funcional do baru tem chegado à população, valorizando seu
potencial tecnológico e econômico.
O baruzeiro apresenta intensa frutificação, cerca de 2.000 a
6.000 frutos por planta, a colheita é realizada entre setembro e outubro, época
mais seca da região. Produz frutos com epicarpo fino, de aspecto macio e
quebradiço, com mesocarpo espesso, farináceo e de consistência macia
constituindo a polpa que envolve um endocarpo lenhoso contendo uma única
semente oleaginosa comestível, denominada castanha de baru, sendo esta a parte
mais valorizada e comercializada. O baru é consumido pela população local e
hoje já é industrializado em pequenas empresas ou cooperativas, com
perspectivas de rápido crescimento inclusive para exportação. As castanhas
podem ser utilizadas em substituição a outras castanhas em preparações
culinárias ou produtos industrializados como paçocas, biscoitos, barras de
cereais, bolos, chocolates, aperitivos, molhos, farinhas, óleos entre outros.
Existe interesse tecnológico sobre as potencialidades do baru, não só da
semente, mas também da polpa e do endocarpo. A semente do baru representa 5% do
rendimento do fruto inteiro e a polpa 30%, assim já são fabricados produtos
alimentícios da casca e polpa de baru desidratada em forma de chips ou farinha
e o endocarpo lenhoso, resíduo da industrialização, pode ser aproveitado para
fabricação de carvão ou como forração de jardins.
BARU COMO SUPER ALIMENTO – SEU ASPECTO NUTRICIONAL
Os valores nutricionais de frutos do cerrado são informações
importantes para aplicação tecnológica, avaliação do consumo e formulação de
novos produtos, promovendo o consumo e consequentemente conscientização sobre a
preservação de espécies economicamente aproveitáveis.
A castanha de baru apresenta em média de 26% de proteínas,
valor maior do que o amendoim, castanha de caju e castanha do Pará, e fornece
todos os aminoácidos essenciais. Além dos aminoácidos essenciais, destaca-se o
conteúdo de glutamina da amêndoa de baru, aminoácido responsável pela
manutenção do equilíbrio ácido-base, regulação da síntese e degradação proteica,
melhora da imunidade, da absorção intestinal, indispensável para recuperação de
indivíduos desnutridos, em pós-operatório e utilizado em dietas parenterais. A
castanha de baru é uma ótima opção de grupos específicos, como os vegetarianos
que precisam ingerir fontes proteicas de origem vegetal de melhor qualidade.
Quanto aos lipídeos a porcentagem é em torno de 38 % , valor
abaixo do amendoim e das castanhas de caju e do Pará, sendo importante para
dietas hipocalóricas. Outra vantagem nutricional da castanha de baru é que
apresenta proporção de ácidos graxos essenciais que contribui para prevenção de
doenças cardiovasculares.
CARBOIDRATOS
O conteúdo de carboidratos da castanha de baru é em torno de
12%, apresentando baixo índice glicêmico, auxiliando no controle das taxas de
glicemia, evitando os picos de insulina e ajudando no controle do peso.
FIBRAS
Outro destaque da castanha do baru é o alto teor de fibra
alimentar, 14%, valor que representa de 2 a 3 vezes o teor do amendoim e das
castanhas brasileiras de caju e Pará. As fibras são compostos considerados
funcionais por prevenirem doenças cardiovasculares, reduzirem nível de
colesterol sanguíneo e o risco de desenvolvimento de alguns tipos de cânceres,
principalmente do intestino. A castanha de baru possui alto teor de minerais,
possui mais cálcio do que o leite e mais ferro do que a carne.
Uma porção de 100 gramas equivale a 59% da ingestão diária
recomendada de ferro, sendo importante para combate à anemia. Também é fonte de
potássio, fósforo, magnésio e zinco. É importante ressaltar o alto teor de
potássio e a reduzida concentração de sódio o que pode favorecer o controle
hidroeletrolítico e da pressão arterial.
O zinco é um mineral que ajuda na imunidade e no controle de
diversas doenças e importante para a fertilidade feminina e masculina, 100g de
castanha fornecem 47% da quantidade de zinco recomendada por dia. A amêndoa de
baru apresenta maiores teores de compostos fenólicos totais comparativamente ao
amendoim, avelãs, castanha-do-brasil, castanha de caju, pinhões e macadâmias.
O consumo de alimentos antioxidantes e ricos em fitoquímicos
está relacionado à redução do risco de doenças crônicas e degenerativas como
doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes, doenças neurodegenerativas
como Alzheimer e Parkinson e alguns tipos de câncer.
O ÓLEO DE BARU
O óleo extraído da castanha é fonte também de potente antioxidante e preventivo na formação de trombos. Os ácidos graxos da família ômega, quando consumidos nas dosagens recomendadas, são importantes na prevenção da hipertensão e na redução do colesterol total e LDL (colesterol ruim), regularizam os níveis de glicose no sangue, reduzem a gordura abdominal e a incidência de câncer, além de ajudarem na cicatrização e na diminuição da queda de cabelo.
O consumo global de castanhas e frutas secas tem crescido 6%
ao ano de acordo com INC (International Nut and Dried Fruit Council) e o Brasil
participa desse mercado principalmente com as castanhas do Pará e de caju das
regiões norte e nordeste respectivamente. Recentemente, o Centro-Oeste passou a
colaborar neste portfólio com a castanha de baru.
HISTÓRIAS VENCEDORAS QUE INSPIRAM
EDSON CUNHA
Edson Cunha, é brasileiro, nascido em Jussara no estado de
Goiás. De um humor irreverente, abriga dentro de si um respeito e uma admiração
pelo cerrado brasileiro, pelo baru e pelo babaçu que estão transformando um
negócio rentável em estilo de vida para a população local e para si mesmo e
seus sócios.
RICARDO PAVAN
Ricardo Pavan, é brasileiro, um executivo naturalista com
talento comercial nato e uma vasta experiência em importação e exportação. Atua
desde 2011 no setor de produtos naturais e orgânicos. Gestor atual na sociedade
ao lado de Edson e Wesley, comanda a LabraFlora na sede de Los Angeles/EUA
comercializando os produtos para todo o mundo. Ricardo também é responsável
pelo relacionamento com investidores internacionais.
WESLEY MACHADO
Wesley Machado, é brasileiro, nascido em Jussara na região
de Terra Branca. Um empresário que conhece bem o extrativismo do baru e o
reflorestamento do baruzeiro, com uma missão pessoal de recuperar o que o
próprio pai desmatou como tradição local.
OS PRODUTOS DO BARU LABRAFLORA
O fruto baru pode ser comercializado in natura ou beneficiado de maneira manual e artesanal pela extração da castanha, agregando ainda mais valor. Na indústria o fruto in natura é beneficiado e as castanhas comercializadas in natura ou torradas, embaladas e rotuladas. Outros produtos industrializados que utilizam a castanha do baru Labraflora como matéria-prima, que já estão no mercado, são a farinha de baru, o óleo de baru e produtos formulados como molhos, licores, a cachaça do baru, pães, barras de cereais, pastas de baru com cacau e outros ingredientes. Da polpa podem ser encontrados farinhas e chips além de produtos formulados utilizando estes como ingredientes.
O REFLORESTAMENTO DO BARUZEIRO PELAS MÃOS DA LABRAFLORA
Com a disseminação do conhecimento e conquista de novos mercados pela Labraflora dentro e fora do país, o corte do baru tem sido reduzido e o seu plantio vem aumentando em função do apelo socioambiental e da importância econômica que começa a representar para a região, similar ao açaí na região norte. Espera-se que em poucos anos ocorra um movimento inverso ao de destruição do cerrado, o que já foi iniciado pelos empresários, em manutenção e replantio desta espécie.
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