Artigo publicado pelo Jornal Diário da Manhã (DM.COM) em 19/07/2017.
"Época de temporada no Rio Araguaia é o momento oportuno para
os que levantam bandeiras ambientais se manifestarem. É o que acontece todos os
anos, mas nem sempre focam a causa na sua verdadeira raiz, o assoreamento do
rio.
Num rápido passeio a bordo de um pequeno barco foi possível
verificar o estrago que faz as ondulações da água de encontro às barrancas do
Rio. Naturalmente que o percurso da água, livre no seu leito, não tem forças
para degradar as margens. O que acontece é que uma embarcação ao trafegar
movimenta as águas contra as margens, em sentido contrário ao estabelecido pela
natureza, o assoreamento mais agressivo contra o Araguaia vem daí, mas pouco se
ouve falar sobre isso.
Uma lancha pequena que seja movimenta grande volume de água
contra as barrancas. Verdadeiras ondas que solapam terra retirando o solo sob
as raízes das árvores e toda a vegetação. A agressão é violenta, observa-se
logo após o tráfego de qualquer embarcação, mesmo as menores, a retirada de
areia do barranco pelo choque das águas, areia que se avoluma no leito raso
que, “entupido” impede a passagem livre da água.
O que falamos aqui pode ser comprovado, um fenômeno que faz
o Rio Araguaia mais largo e, conseqüentemente mais raso. Uma realidade que
dispensa uso de maior tecnologia científica ou estudos mais aprofundados para
sua comprovação, o uso do Rio para turismo e lazer desregrado, acampamentos e
embarcações, provocam a sua destruição!
O que indigna na verdade é a hipocrisia daqueles que defende
o rio, pseudo-ambientalistas, todos na verdade usuários e aproveitadores do
manancial natural para o bel prazer, a diversão e satisfação pessoal, cegos que
não vêem a destruição que provocam, mas que desviam o foco da ação predatória
provocada por milhares de freqüentadores das ditas belezas naturais do ambiente
que compõe a fauna e a flora aquática nas águas turvas do nosso Rio.
Qualquer um que navegue pelo rio pode observar verdadeiros
paredões em vários pontos onde a ação da água movimentada fez estragos
irreparáveis. “Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”, mais ainda quando
de encontro ao solo fofo que constituí as barrancas. É só observar o número
imenso de árvores tombadas, a vegetação caindo junto com o solo retirado pela
força da própria água do rio, uma espécie de “suicídio forçado do rio” pela
ação do homem e suas embarcações.
Essa movimentação toda na superfície não estressaria a fauna
submersa? Os pescadores reclamam da pesca escassa, mas são os mesmos que
consumiram os peixes e prejudicam a sua reprodução. Não adianta “Taxa Zero”, é
um mero paliativo, seus autores são os maiores pescadores, o poder aquisitivo
da população aumentou, e assim o fluxo de pescadores, hoje é consumido lá no
rio mesmo mais peixes que antes levados para casa, mas todos sabem que os
peixes continuam sendo carregados aos montes, troféus de férias bem sucedidas,
conquista que afagam o ego da elite defensora do rio para uso-fruto próprio.
O rio está agonizando e vai morrer. Como tirar do seu leito
os que estão lhe tirando a vida? “Ambientalistas” sequer lançam olhos para a
real motivação do seu tombamento. A ação do homem, por menor que seja, degrada
o meio ambiente, desde os tempos bíblicos aprendemos que é mais difícil retirar
a “trave do próprio olho”. Não será fácil fazer entender que a movimentação
crescente das embarcações ao longo do Araguaia atirara e, mais na atualidade
atira, água com força nas barrancas, suficiente para as derrubarem, levando
junto a vegetação solapada na raiz, verdadeiro crime ambiental acobertado pela hipocrisia
daqueles que o utilizam para mera diversão turística.
É preciso insistir, a grande quantidade de material arenoso
derrubada no rio por esta ação do homem, maior que a proporção natural, não
pode ser levada pela água, vai sendo deixada ao longo dos anos pelas praias
criadas, assoreando o canal principal, mudando mesmo curso em vários locais,
numa luta comprovada e infinita do rio pela sua existência.
As matas ciliares não são mais atingidas, de “fora para
dentro do rio”, pela ação do homem às suas margens. A legislação estabelece a
sua preservação pelos proprietários rurais e isto é realidade, não se transmite
escrituração de imóveis sem a sua comprovação documentada. Mas, a inexistência
de legislação apropriada permite a destruição destas importantes matas
ciliares, de “dentro do rio para fora”, não existe ainda sequer o
reconhecimento do problema, quanto mais a sua regulamentação eficaz em Lei: É
preciso coibir a movimentação de embarcações que estão destruindo o Rio
Araguaia! É bom que os ambientalistas de plantão, ou autoridades competentes,
foquem com critério nesta raia da questão, busquem estudos e percebam que possa
ser este o maior problema enfrentado pelo nosso gigante moribundo, o Rio
Araguaia".
NILSON ALMIR PEREIRA DO NASCIMENTO é jornalista (MTE-GO
3176).
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